quarta-feira, 17 de junho de 2015

Literatura: PABLO NERUDA

Pablo Neruda foi o pseudônimo e, mais tarde, nome legalmente registrado, do chileno, poeta-diplomático e político Neftali Ricardo Reyes Basoalto (12 de julho de 1904 - 23 de setembro de 1973). Seu pseudônimo é inspirado no poeta Jan Neruda.

Neruda se tornou um poeta conhecido quando tinha tão somente dez anos de idade. Ele escrevia em diferentes estilos, incluindo poemas surrealistas, histórias épicas, manifestos políticos, prosas autobiográficas e poemas de amor carregados de sensualidade, como em alguns de seus poemas na coleção Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada. Ele geralmente utilizava tinta verde para escrever, o que era uma característica pessoal de anseio e esperança.

No decorrer de sua vida, Neruda ocupou vários cargos diplomáticos e foi, por algum tempo, Senador pelo partido Comunista Chileno. Quando o Presidente González Videla  baniu o comunismo no Chile, em 1948, um mandado foi emitido para que prendessem Neruda. Amigos o esconderam por meses no porão de uma casa na cidade portuária de Valparaíso. Mais tarde, Neruda escapou por uma montanha que ficava próximo ao lago Maihue, e entrou na Argentina.

Anos depois, Neruda era assessor do Presidente Socialista do Chile, Salvador Allende. Quando Neruda retornou ao Chile, após seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel, Allende o convidou fazer uma leitura no Estádio Nacional para 70.000 pessoas. 

Neruda foi hospitalizado com câncer  após o Golpe de Estado protagonizado por Augusto Pinochet, em 23 de setembro de 1973. Morreu em decorrência de um câncer na próstata em sua casa na Isla Negra. Pinochet, apoiado pelas forças armadas, negou permissão para que o funeral de Neruda fosse feito publicamente. Ainda assim, milhares de chilenos enlutados desobedeceram o toque de recolher e lotaram as ruas. 

"Não reclamo para mim qualquer privilégio de solidão: só a tive quando ma impuseram como condição terrível da minha vida. E escrevi então os meus livros como os escrevi, rodeado pela adorável multidão, pela infinita e rica multidão do homem". (Pablo Neruda)

Abaixo algumas de suas poesias mais conhecidas.


https://en.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda



QUERER

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a ferro e fogo.



PEÇO SILÊNCIO

Agora me deixem tranquilo
Agora se acostumem sem mim.

Eu vou fechar os olhos

E só quero cinco coisas,
Cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
Voem e voltem à terra.
A terceira é o grave inverno,
A chuva que amei, a carícia
Do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o verão
Redondo como uma melancia.

A quinta coisa são teus olhos,
Matilde minha, bem amada,
Não quero dormir sem teus olhos,
Não quero ser sem que me olhes;
Eu troco a primavera
Para que fiques me olhando.

Amigos, isso é tudo o que quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora, se quiserem, vão.

Vivi tanto que um dia
Terão que esquecer-me com força,
Apagando-me do quadro negro;
Meu coração foi interminável.

Mas porque peço silêncio
Não creiam que vou morrer;
Pois é exatamente o contrário:
Acontece que vou viver.

Acontece que sou e que sigo.

Não será, pois, senão que dentro
De mim crescerão cereais,
Primeiro os grãos que rompem
A terra para ver a luz,
Porém a mãe terra é escura;
E dentro de mim sou escuro;
Sou como um poço em cujas águas
A noite deixa suas estrelas
E segue só pelo campo.

Trata-se de que tanto vivi
Que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
Nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Deixem-me só com o dia.
Peço permissão para nascer.



SOBE NASCER, COMIGO, IRMÃO

Sobe nascer comigo, irmão...

Dai-me a mão desde a profunda
zona de tua dor disseminada.
Não voltarás do fundo das rochas.
Não voltarás do tempo subterrâneo.
Não voltará tua voz endurecida.
Não voltarão teus olhos chatos.
Olha-me desde o fundo da terra,
lavrador, tecelão, pastor calado;
Domador de lhamas tutelares;
Pedreiro do andaime desafiado;
Regador de lágrimas andinas;
Escultor dos dedos trabalhados;
Agricultor tremendo na semente;
Oleiro em tua argila derramada;
Traga ao cume desta nova vida
vossas velhas dores enterradas.
Mostrai-me vosso sangue e vosso sulco,
diga-me: aqui fui castigado,
porque a joia não brilhou ou a terra
não entregou a tempo a pedra ou o grão;
Apontai-me a pedra em que caíste
e a madeira em que te crucificaram,
ilumina os velhos pedernais,
as velhas lâmpadas, os chicotes grudados
através dos séculos nas chagas
e os machados de brilho ensanguentado.
Eu venho falar pela vossa boca morta.
Através da terra juntai a todos
os silenciosos lábios derramados
e desde o fundo falai-me toda essa longa noite
como se estivesse convosco ancorado,
contai-me tudo, ponto a ponto,
elo a elo, e passo a passo,
afiai as facas que guardastes,
colocai-os em meu peito e em minha mão,
como um rio de listras amarelas,
como um rio de tigres enterrados,
e deixai-me chorar, horas, dias, anos,
idades cegas, séculos estelares.

Dai-me o silêncio, a água, a esperança.

Dai-me a luta, o ferro, os vulcões.

Juntai-me os corpos como ímãs.

Acudi às minhas veias e minha boca,

Falai por minhas palavras e meu sangue.




POEMA 20 
(DO LIVRO VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA)

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever por exemplo: "a noite está estrelada",
e tiritam, azuis, os astros à distância".

Gira o vento da noite pelo céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis e por vezes ela também me quis.

Em noites como esta, eu a tive entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e às vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como orvalho no trigo.

Que importa se não pode o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Para tê-la mais perto, meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz brancas as mesmas árvores.
Nós, que éramos então, já não somos mais os mesmos.

Já não a quero, é certo, porém quanto eu a quis.
Minha voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos. 

Já não a quero, é certo, mas talvez ainda a queira.
É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me cause,
e estes sejam os últimos versos que eu lha tenha escrito.



PABLO NERUDA - GRANDES CHILENOS



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